sexta-feira, 29 de abril de 2016

A natureza em nós, A imaginação criadora e a intuição - Rita Mendonça


No dia 31/3, tive a oportunidade de assistir a uma apresentação superinspiradora de Gandhy Piorski, artista plástico e pesquisador das práticas da criança sobre o tema Criança e Natureza, que me é tão caro e é tema deste blog. O encontro foi na sede do Instituto Alana, em São Paulo, durante a segunda videoconferência da série Diálogos do Brincar, e que já está disponível online.
Suas palavras tocaram tanto os presentes e provocaram tantas questões – da audiência que acompanhava a conferência pela internet também – que resolvi aceitar o convite de Mônica Nunes, editora do Conexão Planeta, e rever esse encontro para produzir o post de hoje. O que destaco aqui é fruto de minhas reflexões.
Ele começou dizendo – tão poeticamente – que a criança ama sondar, desvendar os mistérios da natureza e que ela precisa disso pra se enraizar no universo da cultura em que vive.  A natureza é mistério, e disso as crianças entendem! Elas reconhecem o mistério das coisas vivas e brincam com elas para se aproximar, chegar perto do segredo, da essência das coisas.
“A natureza ama ocultar-se” diz o famoso aforismo de Hieráclito, filósofo que viveu na segunda metade do século VI a.C., lembrado por Piorski. A natureza está sempre emergindo, num fluxo permanente e contínuo. Ao se aproximar de um ponto, já se está no seguinte. Por isso, ela está sempre se escondendo, fazendo com que nunca seja possível apreendê-la por completo.
Ao brincar com a natureza, a criança entra em contato com as forças primordiais que sustentam a vida e nutrem esse inesgotável fluxo. E essa experiência do brincar permite que ela faça a conexão, que ela se transporte desde o universo natural de onde emergiu para o cultural onde nasceu. Assim é que ela vai entendendo o mundo.
Toda criança, ao nascer, é natureza pura. Se a intervenção cultural for delicada e suave, ela poderá nadar nesse mar de onde veio e ir gentilmente se misturando no ambiente humano. O mundo humano anda provisoriamente muito afastado dos outros seres vivos com os quais temos vivido há milhões de anos e sem os quais não teríamos chegado à forma atual, de como nós somos.
Nós somos a natureza e é na infância que o desenvolvimento biopsíquico pode se dar de forma conectada à fonte de vida ou, ao contrário, separada dela.
Sem o contato direto com a natureza como formular uma compreensão do mundo que seja elaborada e sofisticada como ele próprio? Temos alienado as nossas crianças da fonte de energia e de sentidos.
medo da natureza, tão comum na atualidade, vem do desconhecimento. Desconhecimento da experiência primordial de pertencimento. O conhecimento científico não dá conta de oferecer as respostas necessárias, seja no campo da ética, do senso comunitário ou da saúde psíquica, como diz Gandhy.
A natureza não é só o que esta lá fora, longe, nas florestas e nos campos. Ela está em nós e se revela no humano por meio da imaginação, por meio da intuição, a partir do nosso ambiente interior. Criar ambientes que favoreçam a interação com a natureza pra quem vive nas cidades inclui, não só o uso de materiais naturais, a presença de plantas, animais, água, terra etc, mas também lugares que ofereçam a possibilidade de recolhimento, de liberdade e estimulem a imaginação criadora.
Imagem: Desenho de Dora, minha filha
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Bióloga e socióloga, é autora dos livros “Como Cuidar da Natureza” e “Conservar e Criar”, sócia-diretora do Instituto Romã e consultora do projeto Criança e Natureza do Instituto Alana. Ministra cursos, vivências e palestras para aproximar as pessoas do ambiente natural. Acredita que a criança é a natureza se tornando humana e, por isso, precisa conviver com ela para seu desenvolvimento sadio e integral.

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