segunda-feira, 14 de abril de 2014

Enquanto isto no Colégio Estadual de Magé... sonho de uma educação para a paz



Está dado o primeiro passo. Estamos diante da crise de violência. Isto nos incomoda a todos, estamos nos atritando, temos medo, estamos angustiados. É o começo, pois sem crise não há desconforto, não havendo também a possibilidade de transformação.
Livres, portanto, da estagnação, que é o contrário da paz, desejamos mudar. O inimigo a combater é a fragmentação, esta que começa em nós mesmos,  desigualmente divididos, em razão, emoção, sensação e intuição, tentando sobreviver neste modelo mecanicista de educação ocidental, negligenciando todo potencial de um lado inteiro de nosso cérebro.
Seguimos equivocados, julgando ser a inteligência o domínio de algumas ferramentas mentais. Desconhecemos outras formas de interação com o mundo. Travamos uma guerra contra todo resquício de saúde que despreza a estimulação exclusiva do cognitivo em detrimento das outras formas de interpretação da realidade. Este resquício de saúde, pasmem, se apresenta muitas das vezes, em nosso fracasso enquanto professores de um sistema nada coerente. Sim, pois somos incompetentes, por exemplo, para lidar com alunos de ensino médio que não sabem ler! Incompetentes diante de um sistema que nos pressiona a dar "respostas positivas" nos forçando a compartilhar com a mágica que cria números extravagantes nas estatísticas. Não é assim com o sistema de aprovação pelas dependências?  Esta saúde  também se manifesta na alegria dos nossos jovens. Sim, nos habituamos a delegar ao comportamento rebelde a deseducação, mas talvez seja este a resistência ao convencional, ao cristalizado. Vale dizer que não se trata de desconsiderar que o resultado desta enferma educação tem se manifestado no comportamento dos alunos, e também dos profissionais da escola, nos deixando despreparados ao encontro e tornando o ambiente escolar um espaço violento.
A inteligência está na capacidade de interação para o poder pessoal, para a autonomia e não pode se limitar ao lógico, ao racional. Onde está a criatividade, a sensibilidade, a contemplação... e outras formas de relação com o mundo? Mais do que compreender de forma racional, nossos jovens e também cada um de nós, precisamos ser tocados pelo mundo, precisamos de modo que nos conheçamos integralmente: corpo, mente, alma e espírito. Este é o ser humano!
O que significa isto pedagogicamente falando? A nível de filosofia educacional, já não é novo o trabalho de Jacques Dellors enquanto relatório da UNESCO para a ONU como ideal de educação para o terceiro milênio sobre a evolução transdisciplinar na educação, centrado na inteireza: EDUCAR PARA CONHECER; EDUCAR PARA FAZER; EDUCAR PARA CONVIVER E EDUCAR PARA SER. Uma educação convencional mal dá conta de educar para conhecer ou fazer, talvez. Resta-nos integrar a educação para o conviver e ser!
Neste novo paradigma, o conteúdo passa a ser o próprio aluno. O "Currículo Mínimo" perde este status passando a ser um roteiro. Questionável. Sempre!
Quanto a metodologia, para além da sala de aula. Este espaço é pequeno para a arte, o esporte... e tantas outras vivências que havemos de incluir neste fazer pedagógico. O aluno agora é agente. Porém sem o desejo, que é dele, nada acontece. Ops! Então... contagiar é o lema. Educar passa por despertar o desejo. Mas como se este também não existe em nós?! A boa notícia é que o trabalho educacional, então, também se direciona ao professor. Ele também precisa ser educado. Uma transformação mútua então. E o "transformar-se" não está do lado de fora, no sistema, no governo, no diretor... passa pelo desejo pessoal, que é interno, é de cada um. E isto não tem preço.
Enquanto tentamos promover a mudança no ambiente, mudamos nós. E quando mudamos, o mundo muda.
O pensamento de Ulrich Becker, "Pensar globalmente e agir localmente" muito se aplica a nossa realidade. Se vemos no esporte um caminho para a recuperação do jovem brasileiro, façamos uma olimpíada escolar! Se a música suaviza e engrandece o homem, cantemos!
Este é o sonho do Colégio Estadual de Magé em alguma proporção, pois é o meu sonho.

                                                                               Susi Emerich