segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Meu aluno não quer aprender!


 
Dentre tantos desafios enfrentados pelo professor de educação pública nos tempos atuais, o de dar aulas tem merecido maior destaque.  Uma das razões seria o esgotamento deste profissional, dadas às injustiças sofridas por seus governantes. Injustiças estas que se traduzem, por exemplo, nos baixos salários, na ausência de incentivo à formação continuada e a tantos outros motivos. Outra justificativa para as dificuldades do mestre em ensinar é a falta de motivação dos alunos do Ensino Médio que, segundo os professores, não querem aprender!
            Em geral, tendemos a analisar os eventos de nossa realidade sem estabelecer as devidas relações entre os fatos. No caso do desafio do professor em dar aulas para alunos desmotivados, precisamos entender a relação deste fato com o esgotamento do professor e sua também desmotivação. Este aluno que não quer aprender é fruto de uma educação feita de professores não valorizados, de uma educação pública desconsiderada por políticas cruéis e repressoras. Como esperar que alunos integrantes deste cenário fujam a este perfil caótico?

            Educação em crise. É uma tempestade e estamos no mesmo barco! Professores e alunos com razões de sobra para o esgotamento. Até uma síndrome, a de Burnout, já foi estabelecida para o profissional de educação. Contudo, olhando para nosso aluno que não tem em si o desejo de aprender, reconheçamos um prejuízo ainda maior. Afinal, sem o desejo não há cura para nenhum mal. O mal do conformismo, da passividade, da dependência, do  descrédito...

             Nosso aluno se encontra abandonado num modelo de sociedade marcado pelo rápido, pelo pronto, pelo descartável. Nosso aluno se encontra abandonado num modelo político assistencialista que lhe dá sem que ele precise oferecer. Faz-se de “democrático” enquanto sonega-lhe a oportunidade do esforço, do comprometimento, do aprendizado... requisitos à construção da cidadania. Nossos jovens não sabem a diferença entre prazer e lazer. Foi-lhes mostrado o prazer do ouvir, do contemplar, do ler, do descobrir, do criar? Não! Como entenderão que precisam se esforçar, pagar um preço, tentar de novo, persistir?

             A partir do momento que vemos o comportamento desmotivado do aluno dentro desta educação enferma, nos comprometemos. Com que força? Com a mesma que nos possibilitou olhar para esta situação, que nos incomoda, nos traz indignação. Não estamos mortos, podemos ver! E por que não sonhar?

             Somos educadores, agentes contra ideológicos. Difícil tarefa. O começo é o encontro. Precisamos ir ao encontro deste educando e não ir de encontro a ele. O embate nos paralisa. O afeto nos permitirá fluir. Um bom exercício é ouvi-lo. O que ele pensa de nossas aulas? Este diálogo pode ser um passo favorável à possibilidade tão sonhada de vivenciar uma aula de qualidade, com interesse e entusiasmo de nosso aluno por aprender.

Como já mencionado, nosso aluno em geral ainda não conhece o prazer do estudar. Transita muito bem pelos campos do lazer, do brincar. E, honestamente, é também difícil para nós, já amadurecidos, encontrar motivação para aprender algo onde não há sentido e que não ecoe em nossos desejos. Eis o nosso desafio. “Ensinar” o nosso aluno a sonhar.
 
                                                                                                        Susi Emerich