sexta-feira, 29 de novembro de 2013


Colônia de Férias: "Férias no Quintal"


"Férias no Quintal" pretende estimular a livre iniciativa das crianças, resgatando brincadeiras tradicionais, realizando jogos cooperativos e proporcionando a elas um encontro com amigos e com a natureza.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013


                                                                                        Pintura: Susi Emerich

Santa Ceia
 
Amo a minha liberdade!
Amo a tua liberdade!
Amo ser livre contigo!
Minha liberdade é tão sagrada quanto a tua,
pois o Ser livre é Ser Sagrado,
pois somente livres somos catedrais do verdadeiro Deus.
 
O que dizer da beleza do encontro dos que sabem que jamais se pertencerão?
O que dizer da beleza dos que não se coisificam entre posses?
É beleza rara e farta!
É uma supernova, que ao morrer dá a Luz.
 
Infinito encontrando infinito,
jamais poderia ser algo mundano,
jamais poderia ser algo limitado.
Infinito mais infinito será sempre infinito!
 
Sonho com o tempo onde homens e mulheres,
não se reunirão no meio da noite,
como ladrões arquitetando um grande roubo!
Sonho com a popularização do encontro!
Pois o encontro é a possibilidade de cura do desHumano,
que assombra cada um de nós!
O encontro é a grande celebração!
É a Santa Ceia de cada instante,

onde carne e sangue são postos a

 
mesa mas não são devorados,
onde morte e vida comem e bebem lada a lado.
 
Leonardo Oliveira
13 de novembro de 2013.

 

sábado, 2 de novembro de 2013

O lugar do inspetor de aluno numa educação para a paz

        



      Para localizarmos o inspetor de aluno na escola e entendermos sua função também educativa, precisamos antes pensar no papel da educação escolar como um todo. Pensar o papel da escola pública nos dias atuais é pensar a educação popular em sua essência e seu objetivo maior. Trata-se de uma educação apontada para a transformação da atual sociedade, comprometida com a emancipação social de uma maioria marginalizada.

    Educador engajado com a educação transformadora, Paulo Freire propõe uma Pedagogia da Autonomia na medida em que sua proposta está "fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do educando" (FREIRE, 2000a, p. 11).
A autonomia deve ser conquistada, construída a partir das decisões, das vivências, da própria liberdade. Ou seja, embora a autonomia seja um atributo humano essencial, na medida em que está vinculada à ideia de dignidade, precisamos reconhecer que ninguém é espontaneamente autônomo. Autonomia é uma conquista que deve ser realizada. Sem autonomia não há cidadãos, estes que são agentes da transformação social. 
      A educação escolar deve proporcionar contextos formativos que sejam adequados para que os educandos possam se fazer autônomos. Isto quer dizer que não basta educar para a autonomia e cidadania, mas em exercício destas condições.
    Estar comprometido como uma educação transformadora é além de tudo estar comprometido com a implantação de uma cultura de paz. Isto significa trabalhar, em todo âmbito educacional, por uma "ecologia social", de paz com o outro; por uma "ecologia ambiental", de paz com a natureza e por uma "ecologia pessoal", de paz consigo mesmo. Numa educação voltada à construção de um mundo melhor, mais humano, os conteúdos disciplinares são alcançados por este conteúdo que é transdisciplinar. Assim, o que parece clichê, “educar para a construção da cidadania, para um mundo de paz", sintetiza a função da educação.
       Ao desenvolver sua proposta de uma educação para paz, pela qual foi premiado pela UNESCO em 2002, Pierre Weil apresenta como um dos pilares desta ação educacional, o valor da “hospitalidade”, no sentido de receber, acolher o diferente. Somos todos diferentes. Nossas histórias, nossas qualidades, nossos defeitos... A escola bem representa este lugar de diferentes que é nossa sociedade. Sendo assim, não se classifica como espaço privilegiado para a construção de uma cultura de paz? Poderia estar o inspetor de alunos de fora desta pedagógica e sublime ação?
      O currículo não se limita à sala de aula. Numa abordagem holística de educação, o conteúdo escolar, em sua essência, é o aluno; é o professor; somos todos nós! Ainda que em etapas diferentes, estamos todos em formação. Não há ninguém pronto. A educação é permanente, pois não há um lugar específico para ser alcançado, há um caminho, que é constante.
“Onde quer que haja mulheres e homens,
há sempre o que fazer,
há sempre o que ensinar,
há sempre o que aprender”.
(Paulo Freire)

       A escola deve ser o lugar do exercício da paz, da prática da ética, própria do ser do ser que é livre, que é autônomo, que é cidadão. O conteúdo “cidadania” não está restrito à sala de aula, aos saberes da sociologia, filosofia e etc. O currículo escolar salta aos livros didáticos. O modo como o aluno é visto, tratado, considerado... é componente curricular. Sendo o inspetor de aluno presença marcante no cotidiano do educando, é ele também seu educador! Neste sentido, seu papel não é o do que fiscaliza, mas orienta, acompanha...
      O lugar do inspetor de aluno é o lugar daquele que ensina. Ensina com seu tom de voz, sua postura corporal, seu olhar expressivo, sua palavra, sua presença. Ensina o que significa ser adulto, ser livre, ser ético. Ensina o diálogo, a justiça, a coerência, a tolerância, o humor, a amizade... Aliás, vale dizer que, ainda que a escola falhasse em todos os seus intentos, mas conseguisse ensinar a amizade, grande seria o seu feito.
     Eis um grande desafio, o encontro educativo com este aluno no cotidiano de nossas escolas estaduais. Cotidiano de alunos jovens cursando o ensino médio e que vêm representando o que temos como fruto de uma educação, dentro e fora da escola, marcada pela ineficiência, quando se trata de formar o homem integral, agente da paz, apto a construir sua história nesta sociedade, de maneira a transformá-la a partir de sua própria transformação. Muitos nasceram de pais não adultos, portanto, ainda incapazes de educar sem maiores prejuízos. Todos, (sem excessão!), vítimas de um ensino escolar enxovalhado pelo professor mal formado e desvalorizado. E, contra isso, não há política educacional, ou “sistema inovador de ensino” que dê jeito.
     A boa pedagogia é a pedagogia do encontro. De um educador autônomo, livre, criativo com um educando protegido de ser abandonado nas listagens estatísticas, mas considerado vivo, portanto dotado de uma presença significante e merecedora de um trabalho humanizado, embasado no afeto que se traduz na competência profissional, no compromisso político e na missão maior de contribuir à formação de seres humanos. E, partindo do sentido etimológico do termo “educar” (do latim “educere”) que é “caminhar junto”, sigamos nosso caminho lado a lado. Professor, aluno, inspetor, diretor, coordenador, porteiro, cozinheiro... afinal,

"Ninguém educa ninguém,
ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo."
(Paulo Freire)



Susi Emerich

(Texto produzido a partir de palestra  
para evento da Coordenadoria Serrana I – SEEDUC - RJ:
“Acolhimento dos Inspetores de alunos”aprovados no concurso 2013)