domingo, 30 de outubro de 2011

A afetividade na ótica psicopedagógica



A Psicopedagogia se ocupa de um sujeito que aprende, assim como a Psicanálise se ocupa de um sujeito que deseja e a epistemologia genética de um sujeito que conhece. Portanto, é a inter-relação entre o sujeito desejante e o sujeito cognocente que dá origem ao sujeito da Psicopedagogia: o sujeito aprendente.
Referindo-se à Psicopedagogia, Alícia Fernandez diz que “o ponto moral de sua abordagem não se detém à inteligência, mas à articulação entre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, numa relação com um e outro, que constitui o terreno onde o ensino-aprendizagem acontece.” (FERNANDEZ, 1992, p. 97)
            A autonomia do pensamento possível e necessária para que uma pessoa tenha contato com a faculdade humana mais apreciada, que é a liberdade, constitui o objeto da Psicopedagogia.
            Sendo a Psicopedagogia reconhecida por seu caráter transdisciplinar no sentido de ver o sujeito aprendente para além de suas faces, construído dialeticamente, tornando-se um sujeito global e único, reconhece na afetividade uma composição básica deste ser que é inteiro, carregado de subjetividade.
            A ação psicopedagógica caracteriza-se por olhar, de vários lugares, a relação do homem com o conhecimento, a partir de um eixo comum: a perspectiva integradora.  Vencendo a preconceituosa barreira entre realidade interna e realidade externa, abre canais de comunicação e possibilita uma verdadeira travessia entre consciente/inconsciente, real/imaginário, objetivo/subjetivo, ensinante/aprendente.
            Com o termo ensinante/aprendente a Psicopedagogia designa uma nova visão da relação entre educadores e educandos, onde os espaços e tempos do aprender estão para além das escolas e são percebidos na complexidade e na totalidade da vida de cada um de nós, sujeitos inseridos na dinâmica relacional do conviver com os outros. Este olhar sobre as relações existentes nos atos humanos de ensinar e aprender, presentes no processo de aquisição do conhecimento, nos mostra a flexibilidade no exercício de cada um desses papéis.
O sujeito aprendente e o sujeito ensinante coexistem em cada um de nós. Para que ocorra o ensino e a aprendizagem, é preciso que nos conectemos com ambos posicionamentos, que são subjetivos.
            A aprendizagem ocorre na relação entre a objetividade (a realidade, o conhecimento, a lógica, o espaço, o tempo, o intelecto) e a subjetividade (o simbólico, o desejo, as representações, os afetos). Nos processos de ensino/aprendizagem, o simbólico se transmite ao mesmo tempo em que o conhecimento dito "científico", ou seja, a transmissão do conhecimento é também a transmissão de nossas formas de ser e de crer. É importante assinalar que os processos de ensino/aprendizagem são indissociáveis porque internalizamos modelos de aprender em reciprocidade aos modelos de ensino com os quais interagimos durante a vida nos grupos aos quais pertencemos.
 Com a aprendizagem, o indivíduo se integra ao mundo cultural ativamente se apropriando de conhecimentos e técnicas, construindo em sua interioridade um universo de representações simbólicas. A aprendizagem eleva o sujeito para além de seus “limites” dando um movimento contínuo em seu processo evolutivo, próprio aos seres humanos.
            As teorias de desenvolvimento infantil mais validadas apontam para a relação intrínseca entre afetividade e cognição. Aprendizagem pressupõe afeto. Afeto viabiliza o desenvolvimento intelectual. Deste modo, podemos afirmar que a afetividade é para a Psicopedagogia de fundamental importância.  Sua atenção está voltada para a mediação dos afetos nos processos de aprendizagem, enfatizando as relações interpessoais estabelecidas entre docentes e discentes, pais e filhos, indivíduos e indivíduos, em diferentes situações.
  A Psicopedagogia deve entender a estreita ligação entre pares que compartilham uma construção recíproca, na qual as relações vinculares trazem implicações para o êxito das aprendizagens.       Ela nos convida a pensar na qualidade dos vínculos que se estabelecem no seio da instituição Família e que constituem a estrutura familiar. É no interior da família, dos vínculos estabelecidos entre seus membros, que o sujeito vai construindo sua modalidade de aprendizagem. A partir deste modelo inicial se relaciona. 
Há famílias para as quais questionar, duvidar,  perguntar podem ser atitudes que se chocam com o mandato familiar de suprimir ou neutralizar a diferença, dificultando, dessa forma, o processo de construção de conhecimento e de individuação.
A família, como a matriz da identidade onde se estabelecem as primeiras relações, deve ser estudada e compreendida por aqueles que se dispõem a conhecer como se configura o processo de autoria do pensamento, a partir da circulação do conhecimento na própria dinâmica familiar. Importa, portanto, ao psicopedagogo, a compreensão dos elementos constitutivos da família, observados e estudados sob a ótica da Psicopedagogia, buscando uma leitura e análise que possibilitem a reflexão sobre os aspectos fundamentais dos modelos de interação familiar.  Importa, ainda, a construção de conhecimentos específicos sobre o modelo de comunicação, sobre a diversidade de regras, de padrões e sobre as dimensões hierárquicas nas relações familiares.
.           A investigação dos problemas de aprendizagem e suas causas parte da história de vida do sujeito e não se detém a um recorte do cérebro e suas funções. O afeto transversaliza esta história, interferindo em todo processo de desenvolvimento do sujeito.
Segundo Pain (1996), há interferência da afetividade nos movimentos de assimilação e acomodação propostos por Piaget.  .Os problemas de aprendizagem se ligam a perturbações que ocorrem determinando uma inibição no processo de passagem do momento de assimilação para o de acomodação, ou do predomínio de um sobre outro, não ocorrendo a equilibração.  Desse modo, impede a possibilidade da ocorrência da aprendizagem.  A causa dessa inibição está normalmente ligada ao tipo de relações vinculares estabelecidas entre a criança, sua mãe e seu contexto familiar.
 Pain nos mostra que a inibição precoce de atividades assimilativo-acomodativas dá lugar à modalidade nos processos representativos, cujos extremos podemos caracterizar como hipoassimilação (esquemas de objetos empobrecidos, incapacidade de coordená-los, déficit lúdico,disfunção do papel antecipatório da imaginação criadora);  hiperassimilação (internalização prematura dos esquemas e predomínio lúdico);  hipoacomodação (ritmo da criança desrespeitado, imitação impedida); hiperacomodação (superestimulação da imitação).
A partir do dito por Pain, pode-se compreender a importância do estudo e da análise da influência dos aspectos afetivos do sujeito na constituição de seus esquemas e na representação desses esquemas diante da resolução de problemas.
Para a Psicopedagogia, toda dificuldade de aprendizagem tem a princípio uma motivação de ordem afetiva. Todo fazer psicopedagógico também compreende o aspecto afetivo por excelência, pois não há intervenção psicopedagógica de qualidade sem encontro, sem vínculo.
A afetividade se refere às vivências dos indivíduos e às formas de expressão mais complexas e essencialmente humanas. Entende-se que o homem pensa e sente simultaneamente e isto tem inúmeras implicações nas práticas educacionais, bem como no fazer psicopedagógico.
                                                                                       
                                                                                           Susi Emerich

  

sábado, 15 de outubro de 2011

15 de outubro, homenagem ao professor: EDUCADOR


                                                                                                                                                      Foto: Gicele
                                    
Educa!
Vai junto,
Vive,
Convive,
Influencia,
Mistura-se ao outro...

Educa!
Muda,
Constrói,
Vence!
Convence!
Transforma com vontade
De fazer a diferença.

Mais que vontade,
A boa vontade.
Para estes,
A recompensa divina:
Paz!

Educa!
Com boa vontade
De homem de verdade.
Que sente,
Que luta,
Que é livre!

Educa!
Trabalha!
Chora,
Ri,
Arrepia,
Contagia,
Vibra,
Brilha!

Educa!
Com entusiasmo,
Desejo,
Fé:
No amanhã,
No homem,
Na mulher,
Na vida,
Num mundo melhor!

                                            Susi Emerich