Quando o
homem desenvolveu ainda mais o seu potencial de linguagem criando a
escrita, deu um enorme salto em sua evolução. Se já
nos destacávamos como seres oralizados, após a invenção
da escrita o nível de sofisticação aumentou. Um
passo a mais em nosso processo de humanização. A
possibilidade de se apropriar do linguagem escrita, de se letrar, é
uma questão de dignidade humana! Este aprendizado nos é
próprio. Já nascemos com este potencial.
Uma
criança refaz o caminho trilhado pela humanidade quando
percorre as etapas que a levam ao aprendizado da escrita. Primeiro
descobre o desenho, inclusive marca as paredes de sua “caverna”!
Começa a dar sentido aos símbolos que a cercam como
logo marcas e etc, tal como o homem em sua fase pictórica da
escrita. Aos poucos, quando num ambiente alfabetizador, expande seu
processo de descoberta exercitando-se criativamente até que
se apropria desta habilidade. Torna-se letrado quando tem o seu
potencial de comunicação aumentado em função
desta habilidade; quando o código tem uma função
em sua vida; quando interage com o mundo letrado dinamicamente. É
um aprendizado que acontece num universo significativo e lúdico.
Não há outro caminho para o letramento. Quando a escola
contribui neste processo, cumpre seu papel.
Todo
aprendizado parte do concreto ao abstrato. As regras ortográficas
e demais especificidades do sistema de escrita não podem
embarreirar a concretude do ato comunicativo da escrita. Uma criança
não precisa aprender a escrever para escrever ou aprender a
ler para então ler. Ela aprende enquanto pratica. Obviamente,
quando mediada pelo outro que, sabendo mais que ela, oferece-lhe o
suporte traduzido em informação, estímulo,
sentido, sentimento!
Escrita
é linguagem. Linguagem é subjetividade. Apropriar-se do
código escrito é crescer. Ler e escrever é ser.
Exemplo maravilhoso disto é o depoimento de pessoas adultas
que aprendem a ler e a escrever e se emocionam dizendo-se mais vivas.
Como psicopedagoga tenho testemunhado o valor terapêutico da
aprendizagem da escrita. Jovens superam dificuldades outras a partir
da construção do hábito da leitura. Transcendem
o "ler" e o "escrever" estéreis tornando-se leitores e autores. O
Livro tem sua magia... Basta observar o encantamento das crianças,
mesmo bem pequenas diante das páginas coloridas de um bom
livro. Quando pequena, gostava inclusive do cheiro do livro! Até
hoje adoro a sensação que me traz o cheiro do livro
novo.
Ziraldo nos diz que “Ler é mais importante que estudar”. Monteiro Lobato nos fala que “Um país se faz com homens e livros”. Mas vou terminar meu texto com a frase que entitula esta postagem, frase sem autor identificado, de uma campanha social de um renomado banco: “Quem aprendeu a gostar de ler, poderá escrever sua história”.
Susi Emerich